RTP.pt - 29 Mar 05
Famílias Numerosas criticam falta
incentivos no programa Governo
A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas criticou a falta de
incentivos aos casais com filhos no programa de Governo, na
sequência de um estudo que indica que a taxa de natalidade baixou
para metade em 40 anos.
De acordo com um estudo da Comissão Europeia intitulado
"Confrontando a alteração demográfica: uma nova solidariedade entre
as gerações", um casal português tinha em média três filhos em 1960,
mas em 2003 esse número baixou para 1,5.
"Não existe no programa de Governo uma palavra para apoiar os casais
com filhos", disse à Lusa o presidente da direcção da Associação
Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), Fernando Castro.
O relatório aponta o facto de os europeus terem uma "fertilidade
insuficiente para a substituição da população".
Segundo o mesmo relatório, em todos os países europeus a taxa de
natalidade está abaixo do valor mínimo para a renovação da população
- cerca de 2,1 filhos por casal - tendo caído para 1,5 em muitos
estados-membros.
Relativamente ao caso português, Fernando Castro atribui a
diminuição da taxa de natalidade a uma "cultura anti-natalista",
relacionada com os regimes fiscais.
"É necessário alterar o regime fiscal que é nitidamente contra a
família. No IRS, o valor das deduções que os pais podem fazer com as
despesas de um filho é ridículo", disse.
O presidente da APFN destacou ainda a questão do abono de família,
defendendo que todas as famílias deveriam receber 120 euros/mês por
filho, independentemente do rendimento familiar.
O estudo da Comissão Europeia indica que "o número médio de filhos
que os europeus gostariam de ter é de 2,3, mas apenas têm
actualmente 1,5", salientando que a população na União Europeia está
a diminuir.
Para a Comissão Europeia, os governos deveriam desenvolver políticas
que permitissem às famílias conciliar o trabalho com a vida
familiar, nomeadamente "benefícios familiares, licença parental" e
acesso à habitação.
"Esperemos que este estudo sirva de alerta para o Governo perceber
que há um problema", concluiu Fernando Castro.
O estudo da Comissão Europeia defende também o que os fluxos
migratórios devem crescer "para satisfazer as necessidades de
trabalho" e que a idade de reforma deve continuar a aumentar.
Relativamente a esta última proposta, a associação de famílias
numerosas advoga que o aumento da idade da reforma não deve abranger
os pais de famílias numerosas, já que estes, "com uma média de 4,2
filhos por casal (três vezes superior à média nacional), em nada
contribuíram para essa situação. Pelo contrário".
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