Ecclesia - 13 de Março

Contra a erosão da ética
Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz

Filipe 

“O Estado não se relaciona com a Igreja Católica em função da sua representatividade e importância na história da nação portuguesa. Fá-lo em relação a partidos políticos e até mesmo a clubes desportivos, deveria fazê-lo também em relação à Igreja Católica. Partindo de outra base, é lançar nevoeiro para os olhos das pessoas”. A denúncia e acusação são do Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) que esteve reunida em Assembleia Plenária, no passado dia 10 de Março. António Bagão Félix, ainda a propósito destas “crescentes expressões de erosão ética” que deram origem à aprovação de uma nota pública, refere que “o Estado não pode partir do princípio de que a sociedade é amoral, laica. Há valores que sempre fizeram parte da sociedade portuguesa que devem ser preservados”. Por outro lado, a Nota aprovada pela Assembleia Plenária da CNJP denuncia “sinais de um consumismo desenfreado, de um hedo-nismo permissivo, de um individualismo agreste e agressivo, e de uma pueril exaltação do fácil, do amoral, do passageiro, do vulgar, do medíocre e até do absurdo”. Nesta cultura do nada e do vazio, a CNJP manifesta-se preocupada com a agora visível laicidade e radical secularização por parte de certos agentes sociais e políticos, que “querem fazer do laicismo puro e duro uma nova religião oficial”. 
Bagão Félix sublinha ainda que, em Portugal, por vezes, cai-se no erro de, para promover, as minorias, “bate-se nas maiorias; e a protecção das minorias não deve, nunca, ser feita a custa das maiorias”. O Presidente da CNJP conclui, lembrando que a responsabilidade deste estado de coisas (em que insere a perda de valores como o casamento, a família ou a vida) é de todos, “através da indiferença, do comodismo, da omissão”. 
A CNJP analisou e reflectiu ainda sobre o estado da imigração em Portugal e da recente lei sobre a matéria. Nesta tarefa estiveram na reunião, para dar o seu testemunho, duas cidadãs, uma de origem Cabo Verdiana, outra de origem russa. 
Para Bagão Félix esta “é uma lei positiva que veio reforçar alguns aspectos a favor dos imigrantes e do respeito que lhes é devido”. Ainda assim, lembra que para que uma lei boa funcione, a sociedade não pode, no seu comportamento, ser contrária à lei. E recorda, por isso, o passado emigrante, não muito longínquo, de Portugal: “fomos cais de partida durante muitos anos, agora que somos porto de abrigo devemos ser porto humano”. 
As palavras para o Estado não foram , no entanto, apenas positivas. Bagão Félix aponta o Estado português como “fraco, pela dificuldade em controlar”, sugerindo que seria preferível, em vez de um Estado “que é permissivo na entrada de imigrantes mas desenraizador na permanência, um Estado mais rígido nas entradas mas que consiga proporcionar aos imigrantes uma inserção profissional, social e cultural”. 
A reunião da Comissão Nacional Justiça e Paz terminou com uma eucaristia, presidida por D. Serafim Ferreira e Silva, Presidente da Comissão Episcopal da Acção Social e Caritativa, em que teve presente, de forma especial, a memória das vítimas do acidente da ponte de Castelo de Paiva. 

 

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