Público - 28
Dez 06
Alemãs no fim da gravidez fazem tudo para que o
seu bebé só nasça no dia 1
Andreia Sanches
Médicos preparam-se para enchente nos hospitais,
tudo por causa dum novo subsídio de apoio à
natalidade que entra em vigor no primeiro dia do ano
Evitar o vinho tinto, a canela, o cravinho, dizer
não ao stress, à actividade física excessiva e às
relações sexuais são apenas algumas das receitas que
muitas alemãs que por estes dias vivem os seus
últimos momentos de gravidez procuram seguir. Com um
objectivo: tentar atrasar o mais possível o parto.
As grávidas querem que os seus bebés nasçam a partir
do dia 1 de Janeiro, não antes. É que só depois das
12 badaladas entra em vigor um novo esquema de apoio
à natalidade.
A nova lei contempla um aumento considerável do
valor dos subsídios aos recém-pais trabalhadores -
de um máximo de 7200 euros, pagos ao longo de dois
anos, para um montante que pode ser de até 25.200
euros, pagos em 14 meses. Mas só são elegíveis os
bebés que venham ao mundo a partir do dia 1. Às
23h59 do dia 31 já não dá.
Por isso, os jornais e sites na Internet têm
publicado mil e uma dicas sobre a melhor forma de
atrasar um bocadinho mais o parto. E os clínicos
têm-se desdobrado em avisos: as grávidas não devem
tomar medicamentos para atrasar o momento do
nascimento. "Todas perguntam sobre quais as
possibilidades de adiar, mas ninguém quer pôr os
bebés em risco", garante Christian Albring,
presidente da associação alemã de ginecologistas.
Também as parteiras têm de lidar com as perguntas
das futuras mães. "Dizemos-lhes que não podem
atrasar o nascimento, que é um acontecimento
natural", contou Andrea Bolz, responsável por uma
associação de parteiras ao jornal Spiegel on-line.
Perante a tensão que se instalou, o líder da Igreja
protestante, Wolfgang Huber, já pediu ao Governo um
gesto de boa vontade. Em declarações ao Berliner
Morgenpost, disse que "seria um acto
anti-burocrático, bem dentro do espírito do Natal,
antecipar a data" e decretar que a nova legislação
vigora a partir de 24 de Dezembro.
Nos hospitais, os médicos contam trabalhar mais do
que é habitual. "Estamos a prepararmo-nos para o dia
de Ano Novo e teremos uma grande equipa a
trabalhar", garantia ontem à Reuters um médico de um
hospital de Berlim.
Novas regras,
mais dinheiro
A Alemanha tem uma das taxas de fecundidade mais
baixas da Europa (1,37 filhos por mulher) e está
apostada em encorajar os casais a terem mais bebés e
a "compensar algumas das perdas financeiras que os
jovens pais enfrentam", nas palavras da ministra da
Família, Ursula von der Leyen.
Actualmente, um casal com até 30 mil euros de
rendimento anual pode escolher receber durante 24
meses 300 euros ou 450 euros ao longo de 12 meses.
Com as novas regras, os pais que deixem de trabalhar
para estar com os filhos podem receber até dois
terços do seu salário líquido mensal, até ao máximo
de 1800 euros, ao longo de 12 meses. Se o outro
membro do casal se ausentar do trabalho por dois
meses, o subsídio prolonga-se por 14 meses, ou seja,
o incentivo pode chegar aos 25.200 euros. Para Lucia
C., por exemplo, uma médica grávida que está à
espera que o seu bebé nasça no dia 7 de Janeiro, a
nova lei significa receber mais 15 mil euros do que
o que receberia com a actual.