Os centros de apoio à vida foram
introduzidos em 2002 na Lei de Bases da Segurança
Social por Bagão Félix, ministro do Governo PSD/CDS.
Confrontado pelo Expresso com a decisão socialista
de eliminar do diploma as referências a estas
instituições, o ex-ministro indignou-se: ‘‘Estamos
perante um retrocesso. É uma mera questão de
preconceito ideológico’’. Bagão Félix acrescentou
que ‘‘a coincidência temporal’’ desta decisão com o
referendo sobre o aborto, marcado para 11 de
Fevereiro, ‘‘é manifestamente infeliz’’.
Pedro Mota Soares,
vice-presidente do grupo parlamentar do CDS vai mais
longe e acusa o Governo e o PS de colocarem o Estado
como parte no referendo. ‘‘Com esta decisão, o
Estado incita os cidadãos a seguirem a via da
liberalização do aborto’’, denuncia.
Mota Soares acusa ainda os
socialistas de, com esta atitude, abrirem o caminho
para reduzir o financiamento público a estes
centros, que têm como objectivo combater as causas
que levam à interrupção da gravidez. ‘‘O passo
seguinte é retirar os apoios financeiros criando uma
situação de estrangulamento nestas instituições’’,
concluiu o deputado do CDS.
O ex-ministro Bagão Félix
sublinha o facto de ‘‘numa altura em que os
defensores do ‘Não’ são criticados por não terem
obra ao nível da prevenção, esta decisão mostra que,
para o Governo, a prevenção é uma balela’’.
O Governo assegura que a intenção
foi expurgar a Lei de Bases de Segurança Social de
qualquer carga ideológica. O gabinete do ministro do
Trabalho e Solidariedade Social explicou ao Expresso
que o Executivo ‘‘não faz nenhuma distinção sobre os
apoios sociais que concede. A referência aos centros
de apoio à vida é puramente ideológica’’.
Um colaborador de Vieira da Silva
acrescentou que ‘‘os idosos, as crianças - em
creches ou em risco -, as mães solteiras ou os
deficientes são utentes da rede social’’, não
fazendo por isso sentido valorizar na Lei os centros
de apoio à vida, ignorando outras instituições de
solidariedade social.
Quando, em 2002, introduziu na
Lei de Bases os centros de apoio à vida, Bagão Félix
quis ‘‘dar um sinal de que a Segurança Social é
também uma forma de promover a vida, a família e a
natalidade’’. O gabinete de Vieira da Silva responde
que ‘‘o eixo central da política de família deste
Governo é duplicar, até 2009, as vagas nas
creches’’.