Público -
15
Dez 06
Adultos dormem pouco e estão a obrigar os filhos
a fazer o mesmo
"Somos o país do mundo que mais tarde se deita",
lamenta especialista
Dormir menos não significa aproveitar mais e melhor
os dias, mas sim ter um raciocínio mais lento e
correr risco de obesidade, hipertensão, diabetes e
depressão, uma ameaça para cerca de um terço dos
portugueses. Actualmente, não são só os adultos com
falta de sono, mas também as crianças e os
adolescentes portugueses estão a dormir cada vez
menos, disse à agência Lusa Teresa Paiva,
neurologista e especialista em medicina do sono.
A maior parte das pessoas necessita de dormir entre
sete a oito horas por dia. Mas os mais novos devem
dormir muito mais. De acordo com Teresa Paiva, uma
criança entre os 10 e os 12 anos deve dormir dez
horas, enquanto os mais pequenos, entre os três e os
quatro anos, devem dormir 12 a 14 horas.
"Actualmente, o que se está a fazer às crianças é
pura e simplesmente uma violência, ao pôr as
crianças a dormir sete a oito horas, como os
adultos", salientou a especialista, manifestando-se
preocupada e assustada com o futuro.
Teresa Paiva alertou para o facto de as crianças que
dormem menos na infância virem a ter problemas de
ansiedade quando forem adultos. A neurologista
acrescentou que as crianças com défice de sono têm
ainda um risco acrescido de doenças, são mais
propensas a problemas de irritabilidade, violência e
têm mais dificuldades na aprendizagem.
"Paraíso artificial"
"Os pais chegam cada vez mais tarde a casa e depois
querem estar com os filhos, que se deitam tarde e
levantam cedo para ir para a escola", lamentou,
adiantando que "isto é uma violência física muito
grande, como bater ou não dar de comer".
Segundo Teresa Paiva, mais de 30 por cento da
população adulta portuguesa sofre de insónias,
problema que afecta mais as mulheres do que os
homens. A especialista aponta razões hormonais e
trabalho excessivo (muitas mulheres têm dois
empregos) como os principais motivos.
Excesso de trabalho, jantar tarde, ver televisão,
"teclar" na Internet ou actividade de diversão
nocturna podem contribuir para um sono deficiente.
Teresa Paiva frisou que 70 por cento dos portugueses
vão para a cama depois da meia-noite. "Somos o país
do mundo que mais tarde se deita", lamentou.
Para a especialista, dormir pouco é como "uma
droga", é "um paraíso artificial". Mas poucas horas
de sono podem provocar um maior risco de infecções
e, em casos mais prolongados, aumentar os riscos de
obesidade, hipertensão, diabetes e depressão. Não
dormir dificulta o desempenho e cria problemas na
resolução dos problemas. Lusa