Público -
12
Dez 06
Não basta desligar a televisão, as crianças devem
fazer desporto para se manterem saudáveis
David Marçal
Estudo procura relações entre televisão,
inactividade, obesidade e riscos de doenças
cardiovasculares
Não é por substituir a actividade física que ver
televisão prejudica a saúde das crianças. Em vez
disso, televisão e inactividade são factores de
risco separados, a que devem ser endereçadas
respostas independentes. Ou seja, ver televisão
aumenta os riscos de doenças cardiovasculares,
porque as crianças que vêem mais televisão são as
mais obesas. Já as que praticam mais actividade
física são mais saudáveis, independentemente dos
níveis de obesidade. Estas são as conclusões de um
estudo publicado ontem na revista de acesso livre
PLoS Medicine (disponível a partir do endereço
http://plos.org )
A obesidade infantil é um problema que se tem vindo
a agravar. Há 25 anos, as crianças com excesso de
peso eram raras. Agora, 155 milhões das crianças em
todo o mundo têm excesso de peso e 30 milhões a 45
milhões são obesas.
O excesso de peso infantil é preocupante porque é um
dos chamados factores de risco metabólico, que
aumenta as possibilidades de desenvolvimento de
diabetes e problemas cardíacos no futuro. Ver
televisão na infância (assim como outros meios, tais
como jogos de computadores) tem sido ligado ao
aumento da obesidade e à deterioração da saúde como
adulto.
Uma teoria popular é que ver televisão pode afectar
a obesidade e outros factores de risco por
substituir a actividade física: em vez de jogar à
bola depois das aulas, as crianças preguiçam em
frente à televisão. No entanto, esta teoria popular
tem muito pouco apoio científico.
Neste trabalho foram monitorizadas cerca de 2000
crianças com nove, dez, 15 e 16 anos, da Dinamarca,
Estónia e Madeira. "Pela primeira vez mediu-se
directamente a actividade física de uma criança. Os
miúdos usaram durante quatro dias [dois do
fim-de-semana e dois da semana] um aparelho à
cintura, chamado acelerómetro, que monitoriza toda a
actividade física", explica Luís Bettencourt
Sardinha, professor da Faculdade de Motricidade
Humana e um dos autores do artigo.
Os hábitos de televisão foram avaliados por
questionário e também foram medidos alguns factores
de risco, como gordura corporal, pressão arterial,
níveis de colesterol, açúcar e insulina no sangue.
O estudo conclui que as crianças que vêem mais
televisão são mais obesas e, logo, com mais riscos
de doenças cardiovasculares no futuro: "Há uma
associação positiva entre os tempos que os miúdos
passam a ver televisão e a adiposidade. No entanto,
quando esta associação é ajustada para levar em
conta outros factores - como a actividade física,
género, idade, maturidade sexual, consumo de tabaco
-, deixa de existir. O que isto significa na prática
é que a associação entre ver televisão e os riscos
cardiovasculares é mediada pela adiposidade."
Já no caso da associação da actividade física com os
riscos cardiovasculares é diferente:
"Independentemente de os miúdos serem mais ou menos
gordinhos, os que fazem mais actividade física tem
menos riscos cardiovasculares."
Para Luís Bettencourt Sardinha estas diferenças
justificam que as estratégias preventivas sejam
diferentes: "Não basta reduzir o tempo de ver
televisão, há também que aumentar o tempo de
actividade física."