Voz Portucalense -
11
Dez 06
Referendo aborto
Professor Doutor Serafim Guimarães
O que vem a ser isso
de se marcar uma data que abre ou fecha o direito de
matar livremente?
O número de semanas a
partir do qual se abrem as portas ao aborto, varia
de lei para lei, de circunstância para
circunstância, de país para país. Nem podia deixar
de variar porque essa decisão se fundamenta na mais
completa arbitrariedade. Porquê 10, 12 ou 14 ou
outro número de semanas? Há alguma peça, algum
transplante, alguma bobine que se introduza no
embrião e lhe confira qualquer qualidade que ele já
não possua desde o início?
Fala-se de células
nervosas que surgem em determinado momento. Porquê
as células nervosas? Porventura o novo ser poderia
viver sem coração ou sem pulmões? E as células
nervosas quem as coloca no sítio onde são precisas?
Não provêem de outras que já lá estavam?
A ciência não tem nada
a ver com estas questões manobradas ao sabor dos
momentos e dos propósitos.
O que caracteriza um
ser humano, o que lhe define a identidade, o que o
torna um ser irrepetível é a individualidade do seu
genoma. Ora o genoma, que é o somatório de todos os
genes armazenados nos cromossomas, constitui-se logo
que há fusão dos dois gâmetas. Cada um dos gâmetas
só possui metade do material genético necessário
para a organização de um novo ser. É por isso que um
gâmeta não serve para nada a não ser para se fundir
com o outro. Se vier a ter essa oportunidade então,
sim, constitui-se uma nova célula com todas as
potencialidades, isto é, forma-se um novo genoma, um
novo ser. A partir desse momento único não é
necessário mais nada nem a intervenção de ninguém,
para que o novo ser humano venha a ser uma pessoa
como cada um de nós. É isto que a ciência diz e que
de cada vez mais de perto revela.
É este o núcleo das
divergências entre os defensores do Sim e os
defensores do Não.
Os defensores do Sim argumentam que a vida só começa
tardiamente num momento que ninguém sabe qual é -
para uns é ao fim de 10, para outros de 12, para
outros de 14 semanas., etc – um tempo
arbitrariamente fixado. Os defensores do Não
apoiados naquilo que a ciência demonstra consideram
que o novo ser humano existe desde a concepção.
No resto, parecendo
que há acordo, também não há!
Os defensores do Sim
dizem que também são contra o aborto, mas advogam
medidas que o facilitam e incrementam. Os defensores
do Não
são contra o aborto e defendem a adopção de medidas
de protecção às grávidas, desaconselhando o aborto.
Os defensores do
Não são
contra o aborto, não são contra a pessoa que aborta
e, por isso, não querem que quem aborta seja
incriminada, mas também não querem que seja
aplaudida. Como somos a favor de todos os seres
vivos humanos, temos compreensão para com quem
aborta, mas não esquecemos o bebé que é morto.
Pensando nos dois
seres, mãe e filho, vamos votar
Não