Público - 09
Dez 06
Saúde - As vantagens da amamentação
Rui Cintra
É sabido que o leite materno contém todos os
nutrientes necessários para que o bebé fique bem
alimentado até aos seis meses, sem ter necessidade
de qualquer outro complemento. Além disso, vários
estudos indicam que a criança alimentada ao peito
correrá menos o risco de vir a sofrer de problemas
respiratórios, de diarreias, de alergias ou de
obesidade quando for mais crescida. Outros estudos
indicam que a amamentação favorece inclusivamente o
desenvolvimento cognitivo da criança. Isto para não
falar da relação afectiva que se estabelece entre a
mãe e a criança durante o acto de amamentar.
Também a mãe beneficia da amamentação. Dar de mamar
ajuda-a a recompor-se mais rapidamente do parto,
diminui o risco de vir a sofrer de cancro do colo do
útero, dos ovários ou da mama. Acresce ainda que dar
de mamar economiza tempo (não é preciso andar todo o
dia a aquecer biberões) e dinheiro (uma poupança que
pode significar cerca de ?600 no primeiro ano).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, por
isso, que as mães devem procurar dar de mamar até
aos seis meses de vida da criança, e que podem
continuar a fazê-lo, como complemento alimentar, até
aos dois anos de idade. Porém, as estatísticas
mostram que a maior parte das mães deixam de dar
peito a partir do terceiro, quarto mês, normalmente
antes de retomarem a vida laboral, o que leva alguns
investigadores a concluírem que não existe
correlação entre o trabalho e o desistir da
amamentação. As causas identificadas seriam outras e
teriam que ver com as dificuldades em amamentar e o
stress. Embora algumas mães tenham o hábito de tirar
o leite e de o guardar no frigorífico para que quem
cuide da criança lho possa dar quando a mãe está
fora, o que é certo é que esta recomendação da OMS
raramente é seguida.
Mas mesmo que haja alguma causa que desaconselhe a
amamentação (há poucas: uma infecção activa na mãe,
lábio leporino do bebé...), ou se a mãe decidiu não
dar de mamar, não há razões para sentimentos de
culpa, nem pensar que a criança irá crescer com
dificuldades. É bom lembrar que muitas das
substâncias que ajudam a constituir e reforçar o
sistema imunológico do bebé já lhe foram fornecidas
durante a fase de gestação. Além disso existem no
mercado bons substitutos do leite, próprios para
esta fase da vida do bebé.
O começo. Se a mãe deseja que a sua experiência seja
gratificante e excitante, há que começar por fazer
duas destas coisas: dedicar o tempo necessário com
toda a tranquilidade e sossego e seguir uma boa
técnica. É importante colocar o bebé ao peito da mãe
logo na primeira meia hora de vida, porque estimula
a produção de uma hormona chamada oxitocina que faz
com que o útero se contraia e a mãe sangre menos.
Além disso as crianças quando nascem estão muito
atentas e é bom aproveitar esse momento para
estabelecer o contacto com a mãe, porque daí a
algumas horas adormecem. Pode acontecer que a mãe
tente dar de mamar à criança e ela não demonstre
interesse. Apesar disso ser natural, algumas mães
pensam que não são capazes de amamentar os seus
filhos, o que é rigorosamente falso.
Calma e tranquilidade. Embora haja quem defenda a
velha crença de amamentar o bebé a cada três horas e
durante dez minutos, na realidade os bebés têm os
seus próprios ritmos. Sujeitá-los aos dez minutos
exactos e depois interromper a mamada é insensato.
Quanto às três horas, pode acontecer que chegada a
hora não lhe apeteça comer. Há que dar tempo ao
bebé. Mas também é desaconselhável manter o bebé ao
peito durante uma hora. Em vez de se alimentar, a
criança começa a utilizar o peito como uma chupeta,
o que pode macerar e magoar o peito da mãe. O ideal
é que a mãe dê de mamar sempre que a criança pede.
Também não se deve alternar peito e biberão. O bebé
despende menos esforço a chupar o biberão do que
para sugar o peito, por isso, se se habitua ao
biberão, começa a rejeitar o peito porque este lhe
dá mais trabalho.
A boca do bebé. Para que os peitos da mãe não fiquem
macerados e não desenvolvam algumas inflamações
incómodas, como mastites ou ficar gretado, é
imprescindível que o bebé os agarre bem. É possível
verificar se ele abre bem a boca e consegue abarcar
toda a auréola do mamilo. O lábio inferior do
pequeno deve ficar dobrado para fora, com o superior
a pressionar o peito e a língua encostada à parte
inferior. O nariz deve estar encostado ao seio, de
modo a permitir-lhe respirar. É muito importante que
seja a mãe a trazê-lo ao peito e não fazer com que o
peito vá ao seu encontro.
Se a criança não quer abrir a boca, roce o mamilo
pelos seus lábios e pelas bochechas para a
estimular. Inicialmente é provável que só chupe como
se fosse uma chucha, mas este é já um contacto
importante e serve para estimular a chegada do
leite, cuja produção se inicia nos três primeiros
dias a seguir ao parto. Até lá, o líquido que sai
chama-se colostro, uma substância amarelada, bem
fornecida de anticorpos que manterão a criança longe
das infecções.
Um dos principais receios das mães é o de colocarem
a hipótese de não terem leite suficiente e que o
bebé fique com fome. Tal não é verdade. Nesses
casos, é importante a intervenção de profissionais
de saúde que tranquilizem as mães e lhes digam que
tudo está a correr bem. Existe uma relação de
causa-efeito entre a sucção do bebé e a produção de
leite. Quantas mais vezes a mãe colocar o bebé ao
peito, mais leite produzirá. Há uma regra de ouro
que permite saber se a criança mama correctamente:
se surgirem dores no peito, então existe algo que
não está a correr bem e normalmente tem que ver com
a posição em que se segura o bebé. Se a criança não
consegue esvaziar o seio e este ficar duro e
congestionado, deve falar com um profissional de
saúde.
O excesso de leite. Durante a amamentação a mãe pode
deparar-se com excesso de leite ou com a obstrução
dos canais. No primeiro caso a mãe deverá tentar
tirar o máximo de leite, manualmente ou com uma
bomba. No segundo, pode procurar aumentar o tempo
entre as mamadas, e nessa altura ir mudando a
posição da criança para que vá pressionando por
igual as várias zonas do peito. Aplicar calor húmido
também ajuda a fazer com que o leite flua melhor. No
fim de cada uma das tomas, pode aplicar-se um pouco
de gelo envolto num pano (nunca directamente). As
mães com peitos muito pequenos ou descaídos
perguntam-se muitas vezes se serão capazes de dar de
mamar. Obviamente que sim. O seio tem uma grande
capacidade de adaptação, mas pode-se sempre recorrer
ao uso de correctores de peito, uns minutos antes de
cada toma. Depois de os usar durante alguns dias
eles ficarão sempre erectos.
No que respeita às mastites (uma inflamação da mama
que surge quando o leite fica retido nos seios),
deve-se sempre consultar o médico para que receite a
medicamentação adequada a cada caso.
Em muitos casos a falta de informação e de
experiência da mãe suscitam dúvidas e angústias
sempre que surge o primeiro problema com a
amamentação. Por isso é muito importante que as
grávidas (mesmo as que já sabem que irão fazer
cesariana), frequentem aulas de preparação para o
parto, já que estas aulas não se resumem apenas a
exercícios, mas são na realidade aulas de preparação
para a maternidade. Nessas aulas também se informa
sobre a amamentação e as grávidas podem decidir se
alimentarão a criança ao peito ou não.
No pós-parto, face a qualquer inquietação, uma
consulta rápida ao médico ou a uma parteira (alguns
hospitais disponibilizam pessoal para ir a casa
verificar se está tudo a correr bem e dar apoio às
mães) é muito útil e esclarecedora. Além disso,
ajuda a solucionar problemas concretos, encorajando
a mãe a continuar a dar de mamar. É preciso não
esquecer que uma das coisas maravilhosas da
amamentação é essa ginástica passiva que todas as
mulheres gostariam de ter: estarem relaxadas e
descansadas, criarem uma boa relação com o seu bebé
e perderem calorias sem esforço. Que mais é que se
pode pedir?