Expresso - 08
Dez 06
Razoável ou alarmista?
João Sebastião
A existência de situações de violência,
agressividade e incivilidade nas escolas deu origem
a um conjunto de preocupações que progressivamente
têm vindo a ganhar visibilidade mediática, social e
política na sociedade portuguesa. Mas têm tido como
base a apresentação de factos isolados (o aluno que
agrediu o professor, o professor que se esconde no
anonimato para denunciar situações por si vividas e
para as quais foi abandonado por colegas e
instituição) como constituindo a norma da vida das
escolas, sem que estas notícias se preocupem em
explicar os contextos e processos que se encontram
na sua origem.
Isto contribui para o crescimento do sentimento
de insegurança de famílias, docentes e comunidades,
dando origem a crescentes exigências da tomada de
medidas disciplinares mais severas. Mas será que
este alarme social encontrará base em dados
concretos que mostrem que as situações de violência
em meio escolar tenham assumido uma grande dimensão
ou estão fora de controlo? Partindo da informação
disponível nada nos leva a crer que nos encontremos
perante uma situação de massificação dos actos
violentos ou que estes se encontrem fora de
controlo. Não quer isto dizer que não exista
violência na escola e que esta não justifique uma
intervenção específica, como aliás foi reconhecido
pelo Ministério da Educação ao reformular o programa
‘Escola Segura’ e promover o programa específico de
intervenção (TEIP) para as escolas em que a
frequência de ocorrências é maior.
Há, contudo, que salientar que raramente este é
um problema de polícia, mas algo que em grande parte
depende na sua evolução da forma como as escolas se
organizam e colocam em prática estratégias de
intervenção. Intervir sobre as situações de
violência na escola implica que cada estabelecimento
se preocupe em conhecer a extensão do problema e
desenvolva programas para alunos violentos e
vítimas; que docentes e funcionários não considerem
estas questões como um problema que só afecta os
outros, mas perante o qual se sentem obrigados a
agir quando com elas confrontados; implica ainda o
estabelecimento de redes locais (com associações de
pais, polícia, Ipss, câmaras municipais, etc.),
diferenciando assim a intervenção sobre o que é
violência urbana e o que resulta do fenómeno escolar
propriamente dito. Acima de tudo, implica uma
atitude proactiva da parte das escolas, discutindo o
tema com alunos, professores e pais, promovendo a
vivência de uma cidadania activa.
Sociólogo do ISCTE, coordenador do Observatório de
Segurança nas Escolas