Em cada dia de escola do último
ano lectivo houve, em média, quatro furtos, dois
roubos (com recurso a armas), três agressões e pelo
menos uma pessoa foi ameaçada ou injuriada e uma
escola vandalizada. E foram detectados casos de
prostituição envolvendo alunas e alunos. Num
relatório enviado para o Ministério da Administração
Interna (MAI), a PSP dá conta de que houve 2500
vítimas de violência escolar só num ano lectivo.
As notícias são preocupantes: a
PSP registou em 2005/2006 um aumento de 15% de
criminalidade nas áreas escolares, o que vem quebrar
uma tendência de decréscimo que se vinha a registar
nos últimos anos. Os tipos de crime onde a subida é
mais flagrante são o uso e posse de armas (mais
40%), a posse e consumo de estupefacientes (mais
44%) e os roubos (mais 40%). Só diminuíram os furtos
(menos 22%) e as ameaças de bomba (menos 10%).
Outros crimes em que a polícia
registou um agravamento nas áreas que protege - que
englobam mais de 3000 escolas e cerca de 1 milhão de
alunos - foram os actos de vandalismo (mais 30%), as
ameaças e injúrias (mais 27%), as agressões (mais
24%) e as ofensas sexuais (mais 14%).
Neste último grupo de crimes, a
PSP teve conhecimento de uma dezena de casos de
prostituição, envolvendo alunas e alunos menores de
estabelecimentos de ensino da área da Grande Lisboa.
Trata-se de situações detectadas em escolas
inseridas em meios sócio-económicos desfavorecidos,
havendo também registos de alunas de 13 e 14 anos
grávidas, violência doméstica e abuso sexual na
família. Em números absolutos são cerca de 50 casos
de ofensas sexuais, mais sete do que no ano
anterior, mas quase metade dos denunciados em 2001.
Os roubos verificaram-se, na sua
maioria, nas imediações das escolas e nos percursos
casa/escola, principalmente durante a tarde. Os
autores actuam em grupo e visam, principalmente,
alunos entre os 11 e os 15 anos, utilizando muitas
vezes simulações de armas de fogo. A posse e uso de
armas foi um dos crimes que mais subiram. Cerca de
dois terços destes casos relacionam-se com a
utilização de armas brancas (facas ou canivetes).
Cerca de 7% são armas de fogo adaptadas e em 21% não
foi possível identificar a arma. Foram apreendidas
230 armas brancas e 15 armas de fogo (quase o dobro
do ano anterior).
A PSP recebeu queixas de 2500
vítimas, maioritariamente de alunos (80%); 9% de
professores e 5% de auxiliares. Quanto ao perfil dos
suspeitos, a maioria são alunos (72%) e pessoas que
não pertencem à escola (20%). Neste ano lectivo, as
equipas da ‘Escola Segura’ detiveram 46 suspeitos
que cometeram crimes nas áreas escolares, com
destaque para os roubos (16), tráfico de droga (7),
furto (6) e ofensas à integridade física (5).
A polícia acredita que esta
evolução “é conjuntural, já que se segue a um
período de três anos lectivos de diminuição nos
índices criminais”. No caso de um maior conhecimento
dos casos de droga, explica fonte oficial da PSP,
“deve-se, sem dúvida a uma maior proactividade e
eficácia policial”. Por outro lado, sustenta a mesma
fonte, “nota-se uma maior consciencialização dos
conselhos executivos, encarregados de educação e
alunos para as questões de segurança, traduzindo-se
num aumento dos índices de participação às
autoridades policiais e redução de cifras negras”.
O Governo preparou com os
Ministérios da Educação e da Administração Interna
um novo modelo de organização do programa ‘Escola
Segura’. Admitindo que “foram detectadas algumas
fragilidades na operacionalização” do anterior
projecto, o Governo colocou agora à frente da
organização uma intendente da PSP, licenciada em
Ciências Policiais, antiga comandante da divisão de
Cascais e segunda comandante do Comando
Metropolitano de Lisboa .
O programa ‘Escola Segura’ visa
prevenir os casos de violência nas escolas e nas
imediações e coordena esforços entre várias
entidades, tanto policiais como de intervenção
social. Da comissão consultiva do programa, fazem
parte representantes dos Ministérios da Presidência,
Saúde, Justiça e Segurança Social, a par da Educação
e da Administração Interna. O objectivo é detectar
casos problemáticos e encaminhá-los o mais
rapidamente possível.