Público - 08
Dez 06
Três casos reais
Por Ana Taborda
1.
Adelino Mendes, 44 anos, economista
Teresa Ferro, 44 anos, engenheira
6 filhos, entre os 2 e os 14 anos
Onde vivem: Matosinhos
Despesas fixas mensais:
Água - 60?
Gás - 74?
Electricidade - 78?
Alimentação - 1.200 a 1.400?
Educação - 1.600?
Por cada filho -
Sem limites para sonhar
"Começando por ter um, seguido de outro, mais outro,
e assim sucessivamente, até chegar aos seis.
Simples, fácil, expedito, apaixonante e divertido,
para dar forma a um sonho sem fim." Para Adelino
Mendes e Teresa Ferro, ter seis filhos foi algo que
surgiu naturalmente: "não decidimos, não temos jeito
para essas coisas complicadas," dizem em jeito de
brincadeira, e deixam em aberto a hipótese de
aumentar ainda mais a família. É rara a manhã que
não começa por volta das sete, com Adelino a dar o
primeiro sinal para o acordar. A agenda semanal,
pendurada no frigorífico, dita os caminhos a seguir,
mas há sempre espaço para "ajustamentos de última
hora, muita imaginação, envolvimento total dos dois
e, em SOS, de alguns elementos exteriores à
família." Contam apenas com a ajuda de uma empregada
duas tardes por semana e, quanto às dificuldades,
preferem não se preocupar muito com elas: "nunca saí
de casa com todos os semáforos verdes e isso não me
impediu de chegar ao destino," defende Adelino.
Ainda assim, admitem que, "a nível físico e
psicológico é extremamente desgastante."
2.
Raul Cotta, 47 anos, agente de navegação
Ana Cotta, 39, técnica de serviço social
5 filhos, entre os 4 e os 17 anos
Onde vivem: Setúbal
Despesas fixas mensais
Água -
Gás -
Electricidade -
Alimentação -
Educação -
Por cada filho -
A conta certa
"Quando terminei a licenciatura já tínhamos cinco
filhos," recorda Ana Cotta. "Para fazer a tese, era
frequente estar eu a ditar, o Raul a escrever no
computador, e três ou quatro filhos à volta," conta.
Difícil é lembrar-se da última vez que tiveram a
casa completamente arrumada ou de conseguirem
sentar-se a ver televisão sem interrupções: "gerir
uma família numerosa tem muito a ver com a atitude
face à vida. É preciso saber desfrutar da companhia
deles e não estarmos sempre nervosos". Do casal, Ana
Cotta é a primeira a chegar a casa, por volta das
17h30. Raul ainda regressa a Setúbal para dar aulas:
"Há dois dias em que chego às 21h30 e outros dois às
23h30," explica. Sempre é mais um rendimento extra,
mas "se não gostasse do que estava a fazer, se
calhar não compensava o sacrifício", admite. Os
horários do casal são planeados em função da escola
e das actividades dos filhos. Contam com a ajuda da
filha mais velha, de 17 anos, e de uma empregada,
que contrataram depois de nascerem os gémeos, de
quatro anos. Ter mais filhos é uma questão que já
não se põe: "quer a nível económico, quer ao nível
da organização familiar, não é viável", defendem.
3.
Carlos Velez, 38 anos, médico veterinário
Carolina Velez, 38, artista plástica
3 filhos entre os 5 e os 9 anos
Onde vivem: Manique
Despesas fixas mensais:
Lisboa
Água -
Gás -
Electricidade -
Alimentação -
Educação -
Por cada filho -
Gerir a família
Equilibrar a carreira e a família não é tarefa
fácil. Que o diga Carolina Velez. Quando o segundo
filho nasceu, e feitas as contas, decidiu que não
valia a pena continuar a trabalhar: "prefiro ter
menos coisas e estar em casa, com eles." Mas o tempo
livre acaba por não ser muito: depois de levar as
crianças à escola, segue para o curso de arte
plásticas e, só a partir das 16h, volta a dedicar-se
em exclusivo à família. "Há muita falta de emprego,
sobretudo em part-time," defende Carlos Velez, que
considera que esta poderia ser uma boa alternativa
para muitas mulheres. Com três filhos a cargo, e um
agregado familiar de cinco pessoas, estão no limiar
de uma família numerosa: "é caricato como é que uma
família como a nossa, com apenas três filhos, já é
considerada numerosa," questionam. A falta de apoios
do Estado é um dos factores apontados pelo casal:
"estão mais preocupados com o aborto, e não em
ajudar as mulheres a levar a natalidade até ao fim,"
defendem. "Estarmos perante uma cultura que não
defende nem a vida, nem a família, acrescenta." Mas,
por enquanto, o casal não pensa ter mais filhos:
"gerimos bem este equilíbrio e um quarto filho
implica algumas alterações, nomeadamente a nível
logístico, porque passa a ser preciso um carro de
sete lugares."
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