Agência Ecclesia - 05
Dez 06
«Não Obrigada»
Plataforma cívica começa
campanha pelo «não» ao aborto
Foi
apresentada hoje a Plataforma “Não Obrigada” que se
manifesta contra a liberalização do aborto, juntando
diversas personalidades de diferentes quadrantes
sociais e políticos. Dizem “Não Obrigada” àquilo que
consideram ser a liberalização “a pedido” da prática
do aborto e apresentaram hoje as razões e os
mandatários para esta causa. Os efeitos destrutivos
na vida das mulheres, o ser humano em causa desde a
concepção, o aumento do número total de abortos após
liberalização e o uso de financiamentos para a
prática do aborto são razões que juntaram inúmeras
pessoas na apresentação oficial da Plataforma.
Assumindo-se como um movimento
cívico, apartidário, não confessional, com
profissionais de várias áreas, a plataforma quer
“explicar que esta lei cria facilitismo e uma
demissão total do Estado”, defende uma das pivots da
Plataforma, Sandra Anastácio. “Sabemos que da
experiência de outros países após a liberalização, a
prática aumentou exponencialmente e a liberalização
não resolve os problemas efectivos que as mulheres
têm”, problemas esses de ordem económica, social e
emocional.
No período entre os referendos os
movimentos pelo “não” envolveram-se em projectos,
“ao contrário dos defensores do sim que não
apresentaram alternativas”. Sandra Anastácio,
Directora da Ajuda de Berço lembra que ao “longo
destes oito anos ajudámos a desenvolver cerca de 40
instituições de apoio à família e à vida, acho que
isso nos dá credibilidade para dizer que vale a pena
apostar nas mulheres, vale a pena apostar na vida e
vale a pena criar alternativas” sublinha em
declarações à Agência ECCLESIA.
Como movimento cívico que
desenvolve o seu trabalho através de donativos,
“estamos por isso abertos a que todos possam e
queiram colaborar com este movimento e receptivos a
receber donativos que possam ser empregues nesta
causa” dando já conta de algum apoio por “parte de
particulares apesar de estarmos no começo”.
A aposta é no esclarecimento e na
informação “reservando alguma surpresa na forma como
vamos chegar à opinião pública” considerou João
Paulo Malta, ginecologista. Garantem, de qualquer
forma “uma campanha moderna, não agressiva que quer
principalmente esclarecer”, porque o que se trata “é
de uma liberalização total do aborto e não de uma
despenalização porque esta está feita desde 1984”,
finaliza Sandra Anastácio.
A esta Plataforma várias
personalidades se juntam como mandatários. Manuel
Braga da Cruz, Reitor da UCP; o jornalista e
deputado, Ribeiro Cristóvão; o treinador do Benfica,
Fernando Santos; Bagão Félix, ex-ministro do Governo
PSD/CDS-PP; Ernani Lopes, economista; Nuno Rogeiro,
politólogo; Nuno Morias Sarmento, ex-ministro do
Governo PSD/CDS-PP, entre muitos outros.
Zita Seabra, deputada do PSD,
considera que a lei “que apresentei em 1984 mantém
toda a sua validade, é uma lei equilibrada e
suficiente para resolver o drama que se atravessa na
vida de algumas mulheres” considerou, manifestando
“a mesma opinião que tinha há 20 anos atrás”
afirmou. À Agência ECCLESIA considerou que o
resultado do referendo deve ser “não”, e que a lei
deve ser alterada no sentido de impedir que mais
mulheres vão a julgamento, “sendo uma alteração
meramente jurídica”.
A deputada do PSD vê com bons
olhos o envolvimento dos partidos políticos pois
“eles têm uma responsabilidade política pelo que
fazem e dizem”. Considera que a política não é
contra os cidadãos devendo acrescer o “envolvimento
dos cidadãos em algo que lhes diz directamente
respeito”.
Maria José Nogueira Pinto,
vereadora da Câmara Municipal de Lisboa e militante
do CDS-PP, junta-se a esta causa “com convicção. É
preciso lembrar que já existe uma lei em Portugal
que legisla as situações que podem ser consideradas
mais relevantes e por isso estou do lado da vida
humana que tem de ser protegida, dando voz aos seres
que não têm voz” referiu. A vereadora de Lisboa
considerou que “os partidos devem apagar-se perante
as plataformas dando lugar a movimentos cívicos e
transversais” reiterando a sua participação
“enquanto cidadã”.
Também presente na apresentação
esteve Fernando Castro, Presidente da Associação
Portuguesa das Famílias Numerosas que considerou o
referendo “completamente descabido. O governo só
existe 10 semanas depois de tomar posse? As pessoas
estão mortas 10 semanas depois de terem morrido?”
frisou, chamando a atenção para os 47 mil
nascimentos a menos.
Matilde Sousa Franco, deputada
independente do PS por Coimbra nunca escondeu a sua
convicção, não sendo esta a primeira vez que
participa em campanhas. “Na Assembleia da República
deixei clara a minha posição e não me abstenho, voto
mesmo contra”. Manifestando-se “completamente à
vontade no PS para agir livremente” garante que esta
“não é uma questão de esquerda ou de direita”. É
antes “um problema muito prático porque a Europa tem
um problema gravíssimo de falta de população. A
Comissão Europeia deu normas no sentido dos países
terem políticas pró-natalidade” considerando que
estas políticas “já deveriam ter surgido antes”.
A realidade americana
Myra Meyers, veio dos Estados
Unidos da América, país onde o aborto é livre desde
1973. É voluntária na Justice Foudation’s Operation
Outcry, e veio a Portugal “partilhar a verdade sobre
os males que o aborto causa às mulheres e às
famílias”. Quando soube o que se passava em
Portugal, não fiquei nada entusiasmada, mas senti
logo que tinha de vir porque não quero ver em
Portugal o mesmo que está a acontecer nos EUA”.
Esta texana realizou um aborto e
ao longo das três décadas desde a interrupção dessa
gravidez “me arrependo do que fiz”. Engravidou
jovem, foi mãe cinco vezes e quando o aborto foi
liberalizado, apesar de nunca antes ter considerado
essa hipótese “acreditei nas mentiras da
liberalização”.
“Agora sei que nada fere mais um
homem e uma mulher que tirar a vida de um filho” e
afirma que o aborto livre é enganador pois a sua
liberalização não significa segurança. “Os
procedimentos do aborto são sempre perigosos, não
está em causa o sítio onde se realiza mas o
procedimento em si” recordando que teve de tirar o
útero. Se tivesse realizado um aborto logo na
primeira gravidez “eliminaria todo o futuro da minha
descendência, filhos e netos”.
Nos EUA existem neste momento 1
milhão e 200 mil abortos por ano, número que
aumentou cerca de 15 a 20% todos os anos desde a
liberalização. “O aborto fere tanto as mães como os
pais pois existe o sofrimento pela morte de uma
criança e sentes-te responsável por essa perda”
recorda Myra Morris.
Depois de muitos anos a favor do
aborto hoje “estou contra por causa dos efeitos que
o aborto tem nos pais e na sociedade” afirma a
texana. Relembra que “estamos a perder um terço dos
nossos cidadãos e eu sei que esta situação está a
acontecer também na Europa, afectando a economia e o
futuro das gerações”.