Público - 06
Dez 06
Americana relata como passou do "sim" ao "não"
Maria José Oliveira
Consequências
da despenalização do aborto nos EUA segundo Norma
McCorvey
Rebecca Porter tinha 21 anos quando fez o primeiro
de três abortos. Começou a consumir drogas e álcool.
Anos depois engravidou e o namorado "não quis o
bebé". Novo aborto ("a enfermeira disse que eram
gémeos"), duas tentativas de suicídio, regresso à
toxicodependência.
Mayra Mayers engravidou em 1973, ano em que a
interrupção voluntária da gravidez foi
descriminalizada nos EUA. "Só havia uma coisa a
fazer, uma vez que o aborto tinha sido legalizado."
Na véspera de ir para o hospital, perguntou a Deus
se estava a "fazer algo de mal". Deus não lhe
respondeu. Um ano depois surgiu "a culpa, o
arrependimento, a vergonha". "Eu assassinei."
Cynthia Collins interrompeu a gravidez aos 19 anos.
"O meu namorado não quis o bebé e eu queria que a
relação continuasse." Durante 30 anos recorreu
várias vezes à mesma prática. Teve problemas de
saúde, uma depressão, tornou-se toxicodependente e
alcoólica, e tentou o suicídio. "O primeiro aborto
que fiz abriu a porta à promiscuidade sexual."
Foram estas as experiências escolhidas pela Justice
Foundation, que está em Lisboa a convite dos
movimentos Missão Vida e Juntos pela Vida, para
demonstrar a "tragédia" da "legalização do aborto"
nos Estados Unidos da América.
Os testemunhos das três mulheres, feitos ontem
diante de poucas dezenas de pessoas, na Faculdade de
Letras, exemplificam as histórias recolhidas pela
Justice Foundation junto de "mais de duas mil
mulheres que abortaram", afirmou Allan Parker,
advogado e presidente da fundação, apontando para os
três grossos dossiers que tinha à sua frente. "Estão
aqui os testemunhos escritos e assinados", disse.
Depois dos depoimentos das três mulheres, Parker deu
a palavra a Norma McCorvey, "a responsável pela
liberalização do aborto" nos EUA, que agora viaja
pelo mundo com a "missão" de "evitar que outros
países cometam o mesmo erro que os EUA cometeram em
1973".
Quando tentou abortar, em 1970, provocou um famoso
caso judicial que culminou com a "legalização do
aborto", e hoje identifica-se como alguém que
"trouxe a destruição" para si mesma, "para outras
mulheres e para 43 milhões de bebés" no seu país.
"Tenho vivido num inferno", afirmou, notando que a
sua experiência de trabalho em "clínicas"
converteu-a numa activista do "não". "Pedimos perdão
às crianças, mas as crianças estão mortas e nunca
responderão", prosseguiu.
Numa intervenção que tentou chocar a assistência,
Norma McCorvey concluiu com uma defesa: "Há coisas
que nunca podemos permitir." E enunciou: "Os
assassínios são uma, outra é o abuso sexual de
crianças e a outra ainda é permitir que os
defensores do aborto magoem as mulheres e as
crianças."