Diário de Notícias - 06
Dez 06
Contratação
directa de professores pelas escolas arranca já
em Janeiro
Pedro Sousa Tavares
A contratação directa de profesores pelas escolas,
para preenchimento de necessidades não permanentes,
vai ser uma realidade a partir de 1 de Janeiro de
2007. O novo modelo substitui as contratações
cíclicas, coordenadas pela Direcção--Geral dos
Recursos Humanos da Educação (DGRHE) que, no ano
lectivo passado, abrangeram cerca de 16 mil
docentes.
Pelas novas regras, as escolas terão liberdade de
suprir carências não abrangidas pelos concursos
nacionais do Ministério da Educação, como a
substituição de um professor impossibilitado de dar
aulas por mais de 30 dias - devido a doença ou
outros motivos - ou o recrutamento de peritos de
técnicas especiais, como a dança.
Ao contrário do modelo das cíclicas, os concursos
não serão organizados em função de critérios como a
antiguidade na profissão, cabendo às escolas definir
os requisitos mais importantes. Os vínculos também
mudam: em vez do contrato administrativo de
provimento, passam a ser celebrados contratos
individuais a termo certo ou mesmo acordos de
prestação de serviços (com recibos verdes).
Segundo a última proposta, apresentada ontem aos
sindicatos pelo Ministério da Educação, as cíclicas
não desaparecem por completo, mantendo-se no
primeiro período de cada ano lectivo, salvo
orientação em contrário da tutela.
"Para peritos e professores de técnicas especiais, a
contratação pelas escolas é feita de forma imediata
a partir de Setembro", explicou ao DN Ramos André,
adjunto da Ministra da Educação. "No caso das
substituições, porque nem todos os grupos são
iguais, mantemos essa possibilidade das cíclicas,
porque poderia tornar-se difícil para as escolas a
obrigatoriedade de contratar a partir de Setembro."
"Precariedade"
As negociações sobre o novo regime de contratação
terminam hoje, com a audição da Federação Nacional
dos Sindicatos da Educação (FNE). No entanto, mesmo
com a certeza da aplicação da reforma em Janeiro, as
organizações de docentes ponderam accionar o período
suplementar de negociações.
As principais críticas sindicais ao diploma
prendem-se com o que classificam de "precariedade"
no novo modelo de contratação, tanto para os
professores como para o sistema.
"Há mais precariedade na substituição de contratos
administrativos por contratos individuais de
trabalho, ou de contratos a termo por contratos de
prestação de serviço", disse Mário Nogueira, da
Federação nacional de professores. "Além disso",
acrescentou, "são introduzidas quotas de contratação
por este sistema. E se forem precisos mais
professores e a quota estiver esgotada?"
Mário Nogueira contestou ainda o facto de o sistema
não prever "qualquer mecanismo de recurso aos
concursos das escolas pelos candidatos", e confessa
"estranheza" pelo facto de se "estarem a
regulamentar questões contratuais numa altura em que
o novo Estatuto da Carreira Docente ainda nem sequer
foi promulgado pelo Presidente da República".
Ramos André defendeu que as alterações em causa "não
dependem do estatuto e poderiam ter sido feitas com
a legislação actual". Quanto à falta de mecanismos
de recurso dos concursos, considerou que as críticas
"traduzem uma desconfiança em relação à capacidade
de organização das escolas".