Diário de Notícias - 04
Dez 06
12.º ano geral
garante menos emprego que 9.º
Elsa Costa e Silva
Como são imprevisíveis os voos das borboletas, assim
é inconstante o rumo profissional dos jovens
portugueses que saem do sistema escolar. Um estudo
inédito em Portugal pela sua expressividade analisou
a vida profissional de mais de cem jovens ao longo
de cinco anos. Para chegar à conclusão que o
desemprego é muito significativo, atingindo 42% dos
jovens e que este fenómeno atinge mais os graduados
que saem da escola com o 12.º ano geral.
Este estudo - dos investigadores Joaquim Azevedo e
António Fonseca, financiado pela Gulbenkian -
começou em 2003 e procurou saber como é o itinerário
profissional dos jovens que, em 1998, deram por
terminada a sua educação formal: no 9.º, 12.º
profissional, 12.º geral e licenciatura. Longe dos
tempos em que o diploma era sinónimo de emprego, o
jovem actual sofre processos complexos, muito
descontínuos, depois da saída da escola. "Há autores
que falam nalguma erosão", explica Joaquim Azevedo,
adiantando o interesse em avaliar o impacto sobre os
jovens dos percursos de tipo "ziguezagueantes" a que
hoje estão sujeitos.
Este estudo retrospectivo encontrou alguma
dificuldade em localizar os alunos ("as escolas
perderam o rasto") e em conseguir a adesão de outros
ao relato de cinco anos de vida. Ainda assim, em
1100 ex- -alunos contactados, os investigadores
puderam analisar o itinerário profissional de 101.
E uma das primeiras conclusões tem a ver com o facto
de a escola, sendo uma realidade hoje massificada,
não anula ainda o "berço". Ou seja, explica Joaquim
Azevedo, "o capital cultural das famílias de origem
é muito marcado nos percursos escolares e
itinerários profissionais". Assim, os fenómenos de
mobilidade social são pouco frequentes e fruto de
"muito mérito pessoal dos jovens ou do endividamento
das famílias".
O desemprego atinge os quatros grupos de alunos
estudados, mas em particular os que saíram do
sistema escolar com o 12.º geral. Os que optaram por
terminar o ensino secundário com um curto
técnico-profissional ou com o ensino superior são os
que mais "ziguezagues" fazem para alcançar a meta da
estabilidade. Contudo, ressalva Joaquim Azevedo, "a
mobilidade não é vista como uma realidade má. É uma
estratégia para uma melhor posição. São os mais
instáveis, no percurso profissional, mas progridem".
Esta investigação assinala que a média de empregos
por jovem é de 2,8 - um número elevado, que resulta
de um intervalo entre um e oito, o máximo de postos
de trabalho que os jovens ocuparam nos cinco anos. O
maior número de mudanças de emprego está associado a
um nível de formação e estatuto sócio-cultural mais
elevado. "A mobilidade é gerida de forma pacífica",
conclui Joaquim Azevedo.
Quanto aos alunos que saem apenas com a escolaridade
obrigatória, são os que, de acordo com este estudo,
"ingressam e permanecem em situações mais estáveis".
Contudo, são normalmente situações de "sub-empregos"
ou trabalhos mal remunerados. Não há aqui
instabilidade profissional ou "ziguezagues" porque
há uma espécie de impossibilidade: "São jovens sem
expectativas de mobilidade social e quando encontram
um emprego, ficam lá quietos, porque não podem
sair."
O género joga também um papel importante na
definição dos percursos profissionais. As raparigas
estudadas são as mais mal remuneradas e as que mais
efeitos negativos dizem sentir com a turbulência no
emprego e os "ziguezagues". São também as que mais
se preocupam com a conciliação emprego-família.